As câmaras de vereadores são compostas por dois grupos com interesses contrários: oposição e situação. O primeiro aperta com os dedos as feridas de um governo municipal, revela a ineficiência da gestão pública, denuncia irregularidades e tenta de tudo para mostrar à maior parcela dos eleitores que a escolha deles foi ruim.
Cabe ao segundo grupo, o situacionista, defender este governo. Fala de obras, corte de gastos, antecipa projetos, endeusa a figura do prefeito e tenta de tudo para mostrar que a escolha do governante foi acertada.
Em Penha, para seguir neste raciocínio clichê, “não é diferente”. Há algumas características bem penhenses, é claro, mas a Câmara de Vereadores segue um rito comum a todas as outras câmaras por aí: a guerra de discursos e interesses. E, nesse jogo, quem está vencendo é a situação.
O prefeito Aquiles da Costa (MDB) nomeou o vereador Maurício Brockveld (Pros) como o líder do governo na Câmara. Logo o Maurício, que ano passado foi um estorvo na vida do alcaide. Para vice-líder, o “gente boa” Italiano (MDB).
Os dois foram apresentados ao público na última sessão da Câmara, segunda-feira (4) à noite. E Maurício enfiou o pé no acelerador e fez o que sabe fazer de melhor: ganhar no grito e na polêmica. Fez isso ano passado contra o governo e neste ano, após ouvir o canto da sereia do prefeito, faz em favor da administração municipal.
Aquiles acertou na escolha, já que Maurício é um vereador em primeiro mandato e quer mostrar serviço. Tem mostrado até demais: recentemente gravou um vídeo falando mal da obra de uma creche que ele classificou como “desperdício de dinheiro público”. Creche que ele afirmou ter sido concluída ainda sob o comando do ex-prefeito Evandro Eredes dos Navegantes (PSDB). Ele só esqueceu de fazer a lição de casa. A obra, como revelado após a repercussão do vídeo, foi concluída na gestão do atual prefeito.
Restou ao Maurício baixar o volume da denúncia e desconversar. O secretário de Governo da prefeitura, Eduardo Bueno, disse ao Jornal do Comércio (Piçarras) que o vereador agiu errado. Mesmo assim, Maurício foi agraciado com o cargo de líder do governo na Câmara. Resta saber se o prefeito quer que ele seja “fritado” pelo ímpeto dos discursos vorazes ou se enxerga em Maurício a figura de um líder.
Oposição de camarote
Enquanto Aquiles mantém o puxadinho da prefeitura sob comando, os vereadores de oposição parecem pairar na quinta dimensão. Desde que o prefeito demonstrou interesse em desapropriar o terreno do empresário Paulo “Puc” Hering, no Bairro Armação, e fazer ali um mercado público, o vereador Jesuel Francisco Capela (PSDB), o popular Juju, não quer saber de briga. Até que o projeto de desapropriação seja votado e aprovado na Casa, Juju estará de mãos dadas com o governo, já que nutre um carinho todo especial por Puc, seu antigo patrão.
Juju, que está no terceiro mandato e deveria ser a voz da oposição na Câmara, só está lá para ocupar um assento no plenário. É o vereador que mais apresentou moções e indicações lisonjeiras a empresários. É o puxa-saco-mor da Câmara de Penha.
Outro que não consegue ameaçar o governo é o vereador Joaquim Costa (PP), parente do ex-prefeito Evandro. Diferente de Juju, Joaquim está no primeiro mandato e até agora não engrenou. Ensaiou algumas abordagens em direção ao governo, mas logo foi freado pela situação, mais organizada e coesa.
Restou aos vereadores Luizinho Américo (PSDB) e Silas Antonietti (PSD) proporem uma oposição mais construtiva na Casa do Povo penhense. O primeiro, aliás, não é visto com bons olhos dentro do PSDB. Luizinho teve uma história política no PMDB e hoje, do ninho tucano, tem pautado a sua atuação de maneira isenta. Coisa que desagrada muito o tucanato.
Silas é quem tem praticado uma oposição mais forte. Além da participação na filiação do atual vice-prefeito Lindomar Schulle no PSD, o vereador “bate” no governo a cada sessão.
Mas o que preocupa o prefeito Aquiles? Uma oposição dispersa ou uma situação cheia de demandas e favores para cobrar?
