Caso da creche Pingo de Gente demonstra falta de planejamento da prefeitura

O prefeito Aquiles da Costa (PMDB) garantiu ontem para os pais dos alunos da Pingo de Gente que fechamento da unidade de ensino era boataria (Foto: Divulgação)

O episódio envolvendo o remanejamento das crianças da creche Pingo de Gente merece algumas reflexões e ponderações. A começar pela forma como o assunto foi tratado pela prefeitura. Se o prefeito Aquiles da Costa (PMDB) nunca teve a intenção de fechar a unidade de ensino, por que então divulgar no site oficial da prefeitura, ontem (5), notícia informando que a “Secretaria de Educação promove remanejamento de alunos na educação infantil”? O verbo usado nesse título não deixa dúvida: “PROMOVE”. Se promove é porque vai fazer, ou seja, vai fechar!

A confusão, no entanto, começou na terça (4). Os pais dos alunos da creche Pingo de Gente se manifestaram por mensagens de WhatsApp e por meio do Facebook afirmando que a prefeitura fecharia a creche Pingo de Gente. A informação, segundo esses pais, foi repassada pela diretora da creche, Rosalva Anhaia Nusda. Logo, era oficial.

Na quarta, eu questionei o assessor do gabinete da prefeitura, Eduardo Bueno, sobre essa história. Quis saber se era um boato plantado pelas viúvas do ex-prefeito Evandro Eredes dos Navegantes (PSDB) ou se a prefeitura estava mesmo planejando fechar a creche. Em conversa via WhatsApp, Eduardo explicou que a Secretaria de Educação fez um levantamento sobre os endereços das crianças e que, com a inauguração da nova creche do Gravatá, algumas seriam remanejadas para lá; outras seguiriam para a creche Anjos do Itapocorói, no Bairro Armação.

Eduardo não usou o termo “fechar”, mas ficou subentendido, já que no prédio da creche Pingo de Gente passaria a funcionar o EJA, hoje com algumas turmas precariamente formadas na Colônia dos Pescadores.

Perceba: se os alunos da Pingo de Gente iriam para outras creches do município, o que aconteceria com essa creche? Pois é, mesmo a prefeitura não querendo, a palavra correta é, sim, ‘fechamento’, no caso da unidade. Quanto a isso não há mistério.

Eu publiquei a notícia aqui no site e o assunto viralizou. Cerca de uma hora depois, a prefeitura publicou a notícia “Secretaria de Educação promove remanejamento de alunos na educação infantil”, reforçando a publicação do Notícias de Penha e trazendo outra novidade: não só a creche Pingo de Gente seria remanejada (por favor, entenda fechada), mas também a creche Nossa Senhora da Penha, localizada no Gravatá. A notícia publicada no site da prefeitura não deixa dúvida: “Os 100 alunos da unidade deverão ser imediatamente transferidos para a nova creche, após a inauguração, dia 12”.

IMEDIATAMENTE. Não é preciso muita interpretação de texto para compreender, não é mesmo?

Então, em um mesmo texto publicado no site, a prefeitura informa que duas creches serão (ou seriam!?) desativadas. Prefere tergiversar usando o termo “remanejamento”. Ou seja, fazer rodeios.

E o pior: publica esse texto em meio a uma onda de manifestações contrárias publicadas no Facebook. Publica isso sabendo que os pais estão indignados com a notícia do fechamento da creche, informada a eles pela diretora da Pingo de Gente.

Deu a cara à tapa

Ontem, o prefeito Aquiles foi à creche conversar com os pais e apresentou um discurso diferente daquele publicado no release. Tratou o assunto como boataria e perguntou aos pais quem gostaria que a creche fosse mantida aberta.

Caro leitor, percebeu a incoerência? Se é boato, que negócio é esse de votação? Se é boato, o assunto morreu. Não tem que colocar nada em votação. A vida segue, e com a creche aberta, como está.

Planejamento, planejamento, planejamento….

Hoje, o prefeito e o vice-prefeito, Lindomar Schulle foram entrevistados na Rádio Pérola e Aquiles novamente tratou o assunto como boato, disse que a história “contaminou a cidade como um vírus de internet” e que teria partido de algum funcionário da Secretaria de Educação. “Vou me reunir com a secretária Suselli [Anacleto Batista] e tentar identificar o que aconteceu”, comentou o prefeito na entrevista.

Aquiles ainda veio com uma informação nova e que não estava na notícia publicada no site da prefeitura. Disse que as crianças das creches Pingo de Gente e João Batista da Cruz (Armação, próxima ao Mariscal) iriam para um centro integrado de ensino.

Como? Quando? Onde? Pô, prefeito! Tá difícil. Para construir um centro integrado o senhor precisa de projeto, verba e licitação. Isso demora.

A prefeitura precisa, urgentemente, de um planejamento estratégico de comunicação. Precisa entender que boato se combate com a verdade; que boato se combate com agilidade e não dois dias depois de a história degringolar.

Se a notícia viralizou depois de eu ter publicado aqui no site, por que a prefeitura não entrou em contato comigo? Duas hipóteses: ou porque era verdade ou porque queriam me ver na fogueira.

O texto acima prova que tudo o que publiquei era verdade!

Raffael do Prado
Jornalista