Que mal tem ouvir os dois lados de uma mesma história?

A prefeitura e a Câmara de Vereadores de Penha agiram de maneira coordenada na última semana. Primeiro, os vereadores Isac da Costa (PR) e Maria Juraci Alexandrino (PMDB) denunciaram que no ano passado a Secretaria de Educação, sob a gestão do ex-prefeito Evandro Eredes dos Navegantes (PSDB), deixou de cadastrar cerca de 200 estudantes no Censo Escolar anual.

É com base no Censo que o Governo Federal calcula o valor do repasse do Fundeb, por exemplo. Para cada criança, Penha recebe R$ 4.760 reais por ano. Com 200 alunos a menos no Censo o município deixaria de receber R$ 1 milhão. Isac mostrou um vídeo do ex-secretário de Educação, Adriano de Souza (PSDB), o Tibeco, falando que Penha tinha 4200 alunos matriculados na rede municipal. Mostrou o vídeo para comparar a fala de Tibeco com a quantidade de crianças cadastradas no Censo, que ficou perto de 3900 estudantes.

A denúncia é gravíssima e isso logo foi reconhecido pela comunidade. “Cambada de incompetentes”, “tem que prender”, “analfabetos”, “roubaram o dinheiro do povo”, foram alguns dos comentários que circularam pelo Facebook e WhatsApp.

No dia seguinte à denúncia na Câmara, a prefeitura divulgou uma notícia no site oficial do governo (www.penha.sc.gov.br) com o título “Município de Penha perde 1 milhão de reais em recursos por falta de cadastramento de alunos”. O texto enviado à imprensa aponta que o erro ocorreu no ano passado.

No final do texto, o diretor administrativo da Secretaria de Educação, Fabrício de Liz, disse: “Realmente o que aconteceu foi muito grave. Simplesmente não dá pra entender. No dia 15 de março do ano passado, o ex-secretário de Educação afirmou na Câmara de Vereadores que havia 4200 estudantes na rede municipal de ensino, mas 2 meses depois, no cadastro dos alunos, foram relatados somente 3800”.

Três dias depois, o ex-secretário de Educação Adriano Tibeco se manifestou no Facebook e disse o que todo mundo já sabia. Ele não era o responsável pelo envio do Censo Escolar, já que deixou a secretaria antes do prazo final para o cadastramento. Eu publiquei aqui no site a versão de Adriano.

No entanto, a pessoa que deveria se manifestar, era a professora Iolanda de Souza Amaro, que ano passado assumiu a secretaria em abril e ficou até o final do ano. Eu tentei fazer o dever de casa e corri atrás do outro lado da história. Às vezes é difícil, falta tempo. Mas, mais uma vez: a denúncia era gravíssima e merecia ser melhor apurada.

Deixei mensagem no Facebook da Iolanda na segunda-feira. Algumas horas depois ela me ligou e disse que iria se reunir naquela noite com as diretoras e secretárias das escolas que, supostamente, não tiveram dados enviados ao Governo Federal. Convicta, Iolanda afirmou: “Tenho cópia dos documentos provando que os números foram encaminhados. Só preciso juntar tudo antes de me manifestar”.

Ontem, terça-feira, por volta do meio-dia, ela me procurou novamente. Enviou cópia com números de recibo do Censo com os nomes das escolas. Em seguida, publiquei a versão da Iolanda aqui no site. A notícia logo se espalhou pela cidade e a caça às bruxas começou. Era esperado.

Quem muito bateu por oito anos ainda não aprendeu a lidar com a crítica, com a busca pela transparência e o debate saudável. Minha postura não vai mudar: se eu receber uma denúncia, seja uma história da carochinha ou algo grave como nesse caso do Censo Escolar, eu vou investigar.

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Raffael do Prado