Momento Dia dos Pais

Reproduzo um texto meu de 2014, sobre o ofício de ser pai.

E isso é uma loucura!

“Acordo de um pulo. Olho pela varanda e vejo o breu. São três horas da manhã. Sinto meu corpo cansado, dolorido, como se tivesse levado uma surra. Sento na cama e a dor aumenta com o peso da cabeça. Tudo dói. Tento processar o que me despertou e antes de levantar ouço um som abafado vindo do quarto ao lado. É choro.

A rotina em nada mudou. Estou há um ano e meio sem uma noite de sono digna dos reis: cair na cama e só abrir os olhos quando quiser. Agora, no entanto, o meu querer é o querer de outra pessoa. Ela fala meio enrolado, emite alguns risos e grunhidos engraçadinhos. Caminha de um lado para o outro, mexe em tudo, bate a cabeça, chora, grita, ri. Como ela consegue?.

O pior mesmo é à noite: levantar, correr e preparar o leite. Não é para qualquer um. Tente, zonzo e com as pálpebras dos olhos grudadas, preencher a mamadeira com a medida certa e ainda acrescentar outras medidas de leite em pó. Se a mistura entrar errada, a criança ou vai encarar o leite ralinho ou um alimento grosso e consistente. Mas na madrugada isso pouco importa. Quero mesmo é voltar a dormir e engatar aquele sonho de ilha deserta, sem choros, obrigações, mamadeiras, berço, fralda ou cocô.

Um sonho em que meu dinheiro sobra no fim do mês e compro as revistas que mais gosto, leio o jornal de domingo em paz, assisto filmes com seres humanos e não abóboras, macacos e flores falantes. Um sonho em que na geladeira residam latas de cerveja, ovos, comida congelada e polenguinho gorgonzola. Um sonho em que eu não esbarre em brinquedos, bonequinhas e suas vozes perturbadoras. Um sonho em que eu tenha uma vida novamente…

Se as lamentações renderam quatro parágrafos, as alegrias encheriam um livro, e dos grandes. Depois da correria da madrugada, ela acorda cedo e senta no berço. Não chora, apenas brinca, ri dos sorrisos congelados das bonecas. Mas a falsidade dos brinquedos é demais para uma criança que gosta de interagir. Então, ela fica de pé, com as mãos apoiadas na cabeceira do berço e começa a sinfonia do “ah, eh, ah, eh”, em tradução livre algo como “pai, mãe, venham me buscar”. A gente vai, às vezes correndo, em outras se arrastando, e encontra o sorriso de quem está prestes a ser resgatada da cadeia. Ela estica os braços no alto, implora pelo colo.

Carolina Ferreira Torres do Prado nasceu dia 22 de fevereiro de 2013. Da saída da maternidade até hoje, 30 de julho de 2014, tenho sido um pai/mãe. Optei pelo protagonismo na criação da Carol. Acompanhar cada passo, movimento, fala ou gesto. Pareço um bobão, dizem os de fora, não estão acostumados com homens no papel principal. Sempre os enxergam como coadjuvantes das mães, essas sim, as heroínas. Não aqui em casa. Por vezes essa participação 100% gera cenas engraçadas: dia desses, antes de sairmos para um passeio em família fiquei um tempo indeciso na escolha de que laço combinaria melhor com o vestido azul da minha pequena. Escolhi o rosa.”

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A gente se diverte!